Matemática
20/06/2008
Dissertação resgata a história do ensino de matemática em Irati
A professora de matemática Leoni Malinoski Fillos realizou em sua dissertação de mestrado uma pesquisa sobre a história do ensino de matemática no município de Irati.
Este resgate aconteceu através da coleta de depoimentos de oito professores da cidade. Todos os entrevistados cursaram os primeiros anos escolares e trabalharam em Irati, oferecendo, assim, sua trajetória como alunos e professores para o enriquecimento da pesquisa. O professor depoente mais velho tinha 101 anos e o mais novo 35. Os entrevistados contemplaram os três níveis de ensino – primário, secundário e superior. Além dos depoimentos, utilizou-se também outras fontes, como livros e dissertações.
Nem todos os professores entrevistados lecionaram matemática, contudo, foram escolhidos pela experiência no ensino iratiense. Uma professora religiosa também foi entrevistada, uma vez que o ensino religioso teve e ainda tem forte influência em Irati. Leoni diagnosticou que sempre houve falta de professores de matemática na região. Ela conta que a maior parte dos professores que lecionavam no interior não tinham formação universitária. Eles concluíam o ensino primário, depois faziam um complementar e conseguiam autorização para lecionar.
Em sua pesquisa, Leoni abrangeu os 100 anos de existência do município de Irati. Ela conta que durante 40 anos a cidade tinha apenas o ensino primário. “Em 1940 surgiu em Irati o ensino secundário, no Colégio Irati. Como não havia professores, quem dava aula de matemática eram bancários, advogados e outros profissionais que se identificassem com a área”, revela. “Mais tarde o ensino secundário foi implantado também no Colégio São Vicente e Nossa Senhora das Graças. Nestas escolas, os professores ensinavam matemática conforme a aptidão. Quem gostasse mais de matemática ensinava matemática, aqueles que se davam melhor com ciências iam para esta área. Não havia formação específica”, complementa.
Tendo em vista este problema de formação, o Governo ofereceu cursos para os professores como o CAPES (Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário) e o PREMEM (Programa de Expansão e Melhoria do Ensino Médio), do qual participaram os docentes não apenas de Irati, mas de todo o país. “Pois no Brasil todo o cenário era o mesmo”, justifica. Segundo ela, estes cursos eram emergenciais e resolviam provisoriamente o problema.
Leoni aponta as principais mudanças do ensino da matemática em Irati. Ela diz que atualmente não há falta de professores e que eles buscam formação, apesar de estarem insatisfeitos com as condições de ensino. “O que se percebe hoje é uma insatisfação dos professores pelas condições de ensino. Mas não há mais falta de professores e eles têm buscado a formação. A maior parte dos professores que está trabalhando hoje tem especialização”, afirma. “Hoje eu vejo que o ensino está focado na educação matemática. Educar pela matemática, ver onde ela pode ser utilizada, formar um aluno para ser um cidadão que vai utilizar matemática e a exploração maior das idéias é uma das tendências da educação hoje”, avalia.
Com a apresentação da tese no dia 02 de abril, Leoni recebeu o título de Mestre em Educação Matemática pela Universidade Federal do Paraná. A professora ficou satisfeita com o resultado da pesquisa e diz que pretende continuá-la noutros cursos de pós-graduação. “Para mim foi muito gratificante, ser pesquisadora me trouxe uma satisfação. Eu cresci não só profissionalmente, mas também como pesquisadora e pude fazer alguma coisa pela minha cidade, contando a parte histórica do município”, diz.
A história do ensino de matemática em Irati foi também conectada à história brasileira. A pesquisa está vinculada ao GHOEM (Grupo de História Oral e Educação Matemática). Através desta ligação, a professora pôde ter contato com pesquisadores de outras regiões e comparar os resultados da análise em Irati com a de outros locais. “Há muita semelhança com as outras regiões, especialmente porque todas são interioranas, assim como Irati. Pude perceber que o ensino em cada uma passou pelos mesmos processos”, diz Leoni. O objetivo deste grupo de pesquisadores é elaborar um mapeamento da formação docente da matemática no Brasil.
Texto: Carolina Filipaki, da Redação
Fonte: Hoje Centro Sul
