Disciplina - Matemática

Matemática

19/03/2009

Geometria e Origami

Dobradura milenar - Segredos do Origami
Carlos Gênova, escritor de mais de 14 livros, defende a criação sem limites de esculturas de papel
Origami é a arte milenar das dobraduras e não há limites que a criatividade não possa ultrapassar para desenvolver figuras sem um único corte no papel. O segredo, segundo Carlos Gênova, é decifrar o primeiro código das leis geométricas, aí as possibilidades de criação se tornam infinitas, basta dedicação.
Carlos é mestre na arte do origami. Já escreveu mais de 14 livros sobre o assunto, como uma coleção para as bibliotecas "Brincando com Tangran e Origami". Um deles convida o leitor a desenvolver o raciocínio matemático, porque ele fez esculturas e dobraduras de papel a partir do Teorema de Pitágoras.
"A matemática é uma das matérias malvistas na escola. O origami é uma forma de brincar e aprender essa disciplina", conta.
Há 20 anos Carlos faz origami. Tudo começou quando ele visitou uma feira em São Paulo - em comemoração aos 80 anos da imigração japonesa - no Parque do Ibirapuera.
"Me interessei ao ver um japonês ensinando a fazer uma peça".
Ele começou a estudar e encontrou a dificuldade do idioma, porque na época só havia livros japoneses. "Não entendia a linguagem. Como o origami é uma arte cultural para eles, todos os livros pressupõem que o leitor já conhece o básico, o que não era o meu caso", conta.
Com muita dedicação, Carlos conseguiu decifrar o primeiro código geométrico, aí compreendeu o básico e nunca mais parou de fazer origami e a escrever sobre o assunto para incentivar outras pessoas a se apaixonar por essa arte. Na época, ele trabalhava como músico, era tecladista e abandonou a carreira artística musical, para se dedicar as dobraduras.
Ele já realizou inúmeras oficinas, inclusive em Piracicaba e em Águas de São Pedro. "O que é legal é que essa arte não encanta somente as crianças, os adultos também ficam apaixonados", revela.
PROJETOS. Para realizar uma escultura em origami, Carlos projeta as dobraduras geometricamente e vai desenvolvendo o trabalho até que a folha de papel forme uma figura.
"O origami tradicional utiliza a folha quadrada, que é mais difícil e exige mais do raciocínio, mas quando ensino, utilizo folhas de papel sulfite comuns, no formato A4. Minha proposta é explorar os projetos, sem limites para a criatividade, e buscar todas as possibilidades que a folha permite", revela.
Além desses formatos, pode-se usar, por exemplo, o formato da folha em triângulo. Com essa forma é possível criar um cavalo. "O origami é uma possibilidade de comunicação sem palavras", afirma.
Uma das peças mais conhecidas do origami é o pássaro tsuru. Carlos conta que a arte de dobrar papéis começou na China, os inventores do papel. Mas, foram os japoneses que a cultivaram e a transformaram em um patrimônio cultural. Ori significa dobrar e kami, papel. "Para os japoneses essa atividade também é uma possibilidade de exercício para a paz e até como reza".
O Tsuru é conhecido na China como pássaro da sorte e uma das peças de origami mais populares. Os japoneses acostumaram a fazer esse pássaro, que chama de grou, e dar de presente.
"Há uma história - que virou o filme Os mil Grous de Papel - de uma menina que desenvolveu câncer depois que a bomba atômica explodiu em Hiroshima. As amigas a incentivaram a fazer mil grous de papel porque assim ela iria ser curada. Ela morreu antes de terminar os mil grous, então outras pessoas da sua comunidade fizeram os pássaros que faltaram por ela. Ainda hoje, existe um monumento em Hiroshima, que pessoas do mundo todo mandam grous para serem colocados nele e virou um símbolo da paz", conta.
PEÇAS. Uma das peças de maior destaque de Carlos é o saci sentado. "Quis criar algo que fosse brasileiro, que remetesse à nossa cultura e desenvolvi esse personagem, mas o fiz sentado. O objetivo foi provocar a reflexão, porque nunca as pessoas viram o saci sentado", conta.
A foto dessa escultura está num livro que reuniu obras de mestres em origami do mundo. Ele foi editado na Inglaterra, em 2004, e também foi publicado em dez países. Nessa mesma obra, Carlos também apresentou a dobradura que forma o esqueleto de uma cobra.
Carlos revela que o origami permite trabalhar o cérebro como terapia ou entretenimento. "Pode ser aplicado nas escolas nas disciplinas de educação artística, para auxiliar o desenvolvimento da criatividade na elaboração das formas, como parte de um projeto de educação ambiental, seja para trabalhar com papéis reciclados ou desenvolver formas de animais e plantas. Na matemática, com as frações e a geometria, que foi a primeira das disciplinas que o ser humano desenvolveu, quando passou a observar as primeiras medidas, os desenhos pré-históricos e a intuição geométrica".
LIVROS. No momento, Carlos está produzindo um livro em comemoração ao Ano da Astronomia. "Estou na fase da pesquisa, que envolve filosofia - com as questões sobre o universo - e do desenvolvimento dos projetos geométricos", revela.
Outro projeto que ele deve realizar, ainda neste ano, é baseado no folclore brasileiro. "Vou desenvolver esse trabalho com um amigo japonês e o objetivo é ampliar as discussões sobre nossa cultura e também divulgá-la", revela.

Mais informações sobre origami podem ser adquiridos no site: www.origami.mus.br
Reportagem de: ADRIANA FEREZIM - Especial para a Gazeta
Fonte: Gazeta de Piracicaba
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