Disciplina - Matemática

Matemática

31/07/2009

Matemática e IDH

A Secretaria de Educação [do Rio Grande do Sul] difundiu o resultado de aproveitamento em matemática no Ensino Médio, deste ano: pior do que no ano anterior. O que já era ruim chegou a péssimo! Não é peculiar do Rio Grande; é debilidade do ensino nacional. Estudos analíticos promovidos mundialmente pela Unesco (IDH) situam nossos colegiais na rabada estatística de conhecimento científico básico. Posição vergonhosa na escala de valores registrada há décadas.

No lastro geral do conhecimento necessário ao preparo do jovem para escalar a altura do indispensável, no mundo governado pela ciência, a matemática é fundamental. Ela se insere em toda prática e teoria das demais. Da biologia, física, química, economia às sociais, todas estão hoje prenhes de matemática. O programa do Genoma atrela centenas de computadores. A medicina moderna é recorrente da matemática. As descobertas da genética são fundamentadas em cálculos de probabilidades. Charles Darwin, em A Origem das Espécies, apontando a necessidade da eliminação de elefantes pela seleção natural, calculou o número espantoso da espécie no processo contínuo da procriação se não houvesse a seleção.

Não é de agora que ilustres educadores brasileiros vêm alertando para o óbvio de nosso descalabro educacional. Vozes autorizadas de educadores, de Pascoal Leme a Anísio Teixeira, foram relegadas em favor de pretensiosos experimentalistas, aventureiros da pedagogia demagógica. Desvalorizou-se a autoridade magisterial, desmilinguiu-se a verificação do saber, abriu-se o facilitário da aprovação em lugar da severidade medida pelo saber comprovado, desvaleu-se a premiação do mérito pelo critério esdrúxulo de cotas raciais.

As escolas médias não encontram professores de ciências – física, química, biologia. O preparo destes exige, além do talento particular e raro, extrema dedicação e sacrifício e anos de aprendizado. É vencer dificuldades crescentes, perseguindo soluções pertinazmente. O prêmio: o prazer íntimo da descoberta. O auge: a alegria de transmitir o conhecimento aos pupilos. Marx, o tenaz inimigo do capitalismo, valorizava o esforço científico no dizer: “São dignos da ciência aqueles que não desistem e não se cansam de subir seus cimos pedregosos”.

Nossa reforma de ensino precisaria começar pelo simples: formar professores de ciências por atrativos, inclusive salários discriminados. Aos alunos primários, as quatro operações; a seguir os elementos de Euclides (300 a.C), seus 12 teoremas. O pensamento matemático exige a clareza de linguagem e fluência expositiva. O que exige e determina falar e escrever corretamente sua língua. Neste quadro, a Finlândia, um país de 6 milhões de habitantes, um dos maiores exportadores de tecnologia eletrônica do mundo, com renda per capita de US$ 30 mil, distingue-se na qualidade de educação há meio século ou mais. Todos os países de expressão econômica, cultural e industrial, sem exceção, desenham seus índices num paralelismo claro com a boa educação básica. Isto poderia alarmar nossas autoridades, fazê-las entender os esforços e diretivas heroicos capazes de atenuar nosso atraso quase invencível.

Com a popularização do computador, há um burburinho entre administradores educacionais, a ver nesse instrumento de ilimitadas aplicações a ferramenta mágica de alavancar o aprendizado. O certo é capacitar os alunos a entender a longa trajetória matemática que o faz funcionar e os cérebros maravilhosos que possibilitaram chegar à sua invenção. Fazer compreender o mecanismo mágico de seu funcionamento, que alçou o antropoide vindo da África rumo às estrelas, em lugar de restrita máquina recreativa.

Autor: Luiz Carlos da Cunha

Fonte: Zero Hora
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