Disciplina - Matemática

Matemática

04/08/2009

Geometria das cores

O artista plástico carioca Gonçalo Ivo expõe pela primeira vez no Nordeste, a partir de hoje, na Galeria Multiarte, na Aldeota. A mostra reúne 42 trabalhos, em têmpera, óleo e aquarela, produzidos entre 2000 e 2009. a maior parte da produção é inédita

Gonçalo Ivo ganhou os primeiros tubos de tinta aos 10 anos de idade. Por essa época, o pai - o poeta Lêdo Ivo - comprou um quadro do pintor ítalo brasileiro Alfredo Volpi, conhecido pelas formas geométricas e ritmos coloridos de bandeirinhas e casarios. O menino Gonçalo pegou um compensado de madeira e fez um trabalho volpiano: uma linha vertical e várias convergentes, como uma espinha de peixe, toda em vermelho e azul cerúleo. Quatro décadas depois, o artista carioca - consagrado com exposições pelo mundo - continua a perseguir - de uma forma ou de outra - um certo colorido volpiano. “O homem é um bicho sensorial. No meu caso, como pintor, a cor sempre me pareceu ser o elemento cerne mais forte, mais constituitivo”, disse, em entrevista por telefone, na manhã de ontem. O artista plástico está em Fortaleza para apresentar a sua própria geometria das cores na exposição Gonçalo Ivo - Pinturas e Objetos, na Galeria Multiarte, na Aldeota. Com curadoria de Max Perlingeiro, esta é a primeira exposição de Gonçalo no Nordeste.

Artista intuitivo, Gonçalo Ivo, nasceu em um ambiente que inspirava arte. Em casa, as visitas eram, entre outros nomes, Manuel Bandeira, Marques Rebelo, Moacyr Scliar, Jorge Amado. “Isso (a arte) era um mundo natural. A primeira mulher nua que eu vi na vida foi no ateliê do (artista plástico) Augusto Rodrigues. Às nove horas da manhã, fui estudar desenho e lá estava a mulher posando para ele. Eu, com oito ou nove anos, disse: ‘Papai, quero ser artista’”, brinca. Gonçalo aprendeu a pintar observando o mestre Iberê Camargo - também amigo de seu pai - no ateliê na rua das Palmeiras, em Botafogo, na capital carioca. Formado em arquitetura, frequentou os cursos de pintura de Sérgio Campos Mello e de desenho com Aluísio Carvão, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, nos anos 1970. Na década de 1980, montou ateliê em Teresópolis, no Rio de Janeiro, e, mais tarde, em 1994, foi o primeiro artista de sua geração a expor individualmente no MAM-Rio. Desde 2000, Gonçalo reside em Paris, onde mantém ateliê e dá prosseguimento à sua carreira internacional. Lá, Gonçalo se sente mais brasileiro. “Com esse afastamento, acabei descobrindo que minha paleta de cores ficou cada vez mais vibrante”, conta.

A exposição em Fortaleza é a última etapa de projeto elaborado pela Pinakotheke Cultural, do Rio de Janeiro, em 2008. O projeto compreendeu a exposição A cor-espaço, apresentada na Pinacoteca do Estado, em São Paulo, em janeiro do ano passado e, em seguida, no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, em julho, e a edição de um livro de autoria de Fernando Cocchiarale com entrevista de Luciano Figueiredo. Com 42 trabalhos, a exposição se divide em dois momentos: um pequeno núcleo de pinturas da série Árvores, de 2000, e obras recentes, a maioria, inéditas, sendo aquarelas, têmperas e óleos, além de esculturas denominadas “pinturas tridimensionais”. As pinturas tridimensionais formam a série Objetos, que começou em 1990, quando o artista passou a recolher pedaços de madeira no Rio Sena e a pintá-las no ateliê em Paris.

O artista trabalha exclusivamente com têmpera, óleo e aquarela. Entre os destaques da exposição, estão as duas telas da série Tissu D´Afrique (Tecido Africano), de 2008, com dois metros de altura por dois metros de comprimento, ques tiveram nas mostras do Rio de Janeiro e de São Paulo. Há ainda a série inédita Oratório, formada por quatro trabalhos de óleo sobre tela produzidos este ano. estes trabalho, segundo Gonçalo Ivo, já começam a apresentar uma nova fase. “Há um campo de cor mais dilatado, mais silencioso”, explica. Com produção constante, Gonçalo está se dedicando à exposição prevista para outubro deste ano, no Paraná, e para outubro do ano que vem na Galeria Anita Schwartz, no Rio de Janeiro. Em 2011, o artista já tem agendada exposição na galeria DAN, em São Paulo.


SERVIÇO

GONÇALO IVO PINTURAS E OBJETOS - abertura hoje, às 20 horas, na Galeria Multiarte (Rua Barbosa de Freitas, 1727 - Aldeota). A mostra fica em cartaz até 19 de setembro, de segunda a sábado, das 14h às 20 horas. Visitação gratuita. Exceto o acervo pessoal do artista que estará exposto, todas as demais obras estarão à venda no local. Preço sob consulta. Outras informações: 3261 7724.

EMAIS

O NORDESTE
- Filho de nordestino (o pai nasceu em Maceió), Gonçalo não colocava os pés pelas bandas de cá há mais de 20 anos. Do avião, ao aterrissar em Fortaleza, no último domingo, começou a despertar a memória estética da infância. Nas férias, quando visitava os familiares, em Recife, por exemplo, ele se encantava com os carrinhos de raspadinhas na Praia da Piedade, “reproduzidos” em algumas de suas obras. “Tenho uma ligação com o Nordeste. Com a paisagem, com os campos de cor, que podem ser vistos nos meus trabalhos pelo azul do céu e pelo verde do mar. Aos 14 anos, quando fui pela primeira vez à Recife, senti a diferença da luz, da colocação das nuvens”, recorda. “O Nordeste me acompanha até hoje”, diz.

- Gonçalo Ivo é casado há 22 anos com a bióloga e escritora de livros infantis Denise Ivo. É pai de Antonia e Leonardo, que ele acredita que ainda são crianças, apesar dos seus 14 e 15 anos de idade.

NA INTERNET
www.goncaloivo.com.br

Fonte: OPOVOonline

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