Disciplina - Matemática

Matemática

22/09/2009

A astronomia, a matemática e o lado escuro do Universo

A matemática cresceu, em grande parte, de mãos dadas com a astronomia. Habituados que estamos às comodidades do mundo actual, esquecemos, ou nem sequer sabemos, que a investigação das regularidades e irregularidades dos movimentos dos astros foi fundamental para ajudar a prever a chegada das estações, o que foi, e ainda é, essencial para a agricultura, e que desempenhou um papel imprescindível na navegação. As civilizações necessitam de mapas e calendários, e estes não podem ser elaborados sem recorrer a cuidadosas observações astronómicas e ferramentas matemáticas. A matemática muito deve à astronomia, assim como à geografia, tendo vários resultados em geometria sido motivados por problemas oriundos dessas duas ciências e, muito possivelmente, toda a área da trigonometria nasceu e cresceu de investigações nesses domínios. Reciprocamente, muitas descobertas em astronomia não teriam sido possíveis sem o precioso auxílio de técnicas matemáticas, algumas das quais desenvolvidas com outros propósitos.
É, pois, natural que na introdução ao livro I do seu famoso tratado As Revoluções das Orbes Celestes , Nicolau Copérnico (1473 - 1543) escreva que a astronomia era para muitos dos autores clássicos "a consumação da matemática". Dois exemplos disto que, na minha opinião, deviam ser apresentados com algum cuidado e detalhe no ensino da matemática dirigido a todos os alunos, seja no ensino básico, seja no secundário, conforme o caso, são a estimativa da circunferência , ou equivalentemente do diâmetro, do planeta que habitamos feita por Eratóstenes de Cirene (ca. 276 a.C. - ca. 194 a.C.), e uma ideia precisa do uso e importância da trigonometria na obra de Cláudio Ptolomeu (ca. 85 d.C. - ca. 165 d. C.), que ficou conhecida como Almagesto. Eratóstenes usou geometria elementar de um modo simples e engenhoso para realizar um feito notável: estimar o tamanho do enorme globo que habitamos sem qualquer necessidade de o circum-navegar. Uma descrição interessante desta proeza foi feita por Carl Sagan na série televisiva Cosmos, um dos melhores trabalhos de divulgação científica de sempre. Muitos excertos de vários episódios estão disponíveis no You Tube, em particular o fragmento sobre Eratóstenes.
António Machiavelo, Departamento de Matemática Pura da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.
Fonte: Expresso
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