Disciplina - Matemática

Matemática

29/10/2009

Morre Jean d’Alembert

Jean d’Alembert, falecido há exatamente 226 anos, nasceu na miséria, a 16 de Novembro de 1717, no despertar da época em que o homem começava a “ousar saber”. Quase três séculos depois, a marca que deixou na história das ciências não se apagou. As suas investigações na Matemática e na Física, assim como a primeira enciclopédia científica editada na Europa, são heranças do homem que viveu para ser lembrado como um dos grandes nomes do Iluminismo.
Filho ilegítimo de um oficial de artilharia e da Marquesa de Tencin, Jean d’Alembert foi abandonado pela mãe, na capela Saint Jean Le Rond, em Paris, alguns dias após o seu nascimento. Como era costume na época, foi-lhe dado o nome do santo protetor da capela. Apesar do conturbado início de vida, d’Alembert viria a tornar-se num dos homens mais importantes do século XVIII, pois, como refere Jorge Buescu, doutorado em Matemática e professor deste departamento na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, deixou “inúmeras contribuições de genuína importância para a Física e Matemática", de que é exemplo "o Princípio de d´Alembert, ou dos trabalhos virtuais, que permitiu reformular a Mecânica de Newton numa direção analítica". Buescu lembra ainda que, ao longo da sua carreira científica, Jean d’Alembert contribuiu com resultados nos campos da Dinâmica de Fluidos, Ondas, Álgebra e Geometria”.
Em 1739, apresentou o seu primeiro trabalho de matemática e com apenas 23 anos foi aceito na Academia de Ciências de Paris. Em 1754, foi eleito membro da Academia Francesa. Contudo, é inquestionável que um dos maiores legados de d’Alembert é a “Encyclopédie, ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers”. O matemático, juntamente com Denis Diderot, é responsável pela edição, em 1751, da primeira enciclopédia científica da Europa, obra que revolucionou o pensamento científico. A “Enciclopédia”, com 70 mil artigos, é um trabalho coletivo porque, como questionava o próprio d’Alembert, “que homem pode ser suficientemente ousado e suficientemente limitado para tratar sozinho de todas as ciências e todas as artes?”.
“A 'Encyclopédie' de Diderot e d'Alembert é mais do que um repositório do conhecimento científico da época. É uma tentativa extraordinária de sistematizar todo o conhecimento humano, começando com a sua classificação racional no espírito iluminista. É, por exemplo, na “Encyclopédie” que tem origem a distinção explícita, hoje tão óbvia que nem pensamos nela duas vezes, entre Religião, Ciências Humanas e Ciências Naturais enquanto ramos distintos do conhecimento”, indica Buescu.
Ainda na “Encyclopédie”, encontramos o célebre prefácio escrito por Jean d’Alembert - "Discurso Preliminar" - que Buffon classificou como a “quinta-essência do conhecimento humano”. Buescu explica que esse texto descreve o grande panorama intelectual de síntese iluminista, no qual se deve enquadrar aquilo que será a Enciclopédia. O professor acrescenta ainda que “é uma síntese magistral que ainda hoje devia ser de leitura obrigatória. A sociedade atual deve muito mais aos princípios iluministas do que está, curiosamente, disposta a reconhecer”.
“É claro que a Matemática do século XXI não é a do século XVIII. Mal estaríamos! Mas a Matemática é uma ciência vertical: não se pode estar no 21º andar sem ter passado pelo 18º. Nesse sentido, é claro que as contribuições de d’Alembert estão bem vivas naquilo que ensinamos hoje”, conclui Jorge Buescu.
Fonte: Renascença
Recomendar esta notícia via e-mail:

Campos com (*) são obrigatórios.