Matemática

10/06/2010

O Ensino de Matemática

Por: Antonio Noel Filho
Por que a Matemática é vista por muitos como uma disciplina difícil a ponto de se achar que as pessoas que gostam dela e que a entendem são diferenciadas e muitas vezes consideradas anormais? Será que a Matemática, de fato, não é para todos?
É claro que a matemática é para todos, o que existe na verdade é o mito, enraizado na antiguidade, que apenas poucos privilegiados é que têm o dom de compreendê-la e de enxergar sua beleza. Talvez esta visão que muitos têm da Matemática esteja ligado ao fato de que ela é apresentada, na maioria das vezes, de forma pronta e acabada, como um amontoado de símbolos e fórmulas; sem cor, sem brilho, sem sentido e sem vida. Embora a Matemática esteja presente em praticamente todas as atividades humanas, ela é apresentada nos espaços escolares de forma descontextualizada, fora do real, a ponto de seus aprendizes concluírem que a Matemática da escola é diferente da Matemática presente em suas atividades cotidianas. Porém, a Matemática por si só tem seus encantos, seja na sua estrutura formal, com seus axiomas e teoremas, seja na organização do pensamento ou no desenvolvimento do raciocínio lógico.
Ao relevar a Matemática como uma criação humana, mostrando necessidades e preocupações de diferentes culturas em diferentes momentos históricos e ao estabelecer comparações entre os conceitos e processos matemáticos do passado e do presente, cria-se o desenvolvimento de atitudes e valores mais favoráveis aos seus aprendizes. Desta forma, poderão perceber que a Matemática não está pronta e acabada, mas é uma Ciência que está em constante processo de construção. É consenso entre os educadores que ao verificar o alto nível de abstração matemática de algumas culturas antigas, o aluno poderá compreender que o avanço tecnológico de hoje não seria possível sem a herança cultural de gerações passadas.
Quando pensamos no professor de matemática, o chamamos automaticamente de matemático, o que nem sempre é verdade. Embora tenham em comum a matemática, suas práticas profissionais podem ser muito distintas, e seus conhecimentos que estão na base da profissão podem não pertencer à mesma vertente epistemológica. Temos o matemático de um lado, que tende a conceber a matemática como um fim em si mesmo, priorizando seus conteúdos formais e uma prática voltada à formação de novos pesquisadores. E o professor (educador matemático), em contrapartida, tende a conceber a matemática como um meio ou instrumento importante à formação intelectual e social. A produção de conhecimento nessas duas categorias também é distinta. Enquanto os matemáticos de um lado se preocupam em produzir, por meio de processos hipotético-dedutivos, novos conhecimentos e ferramentas matemáticas que possibilitam o desenvolvimento da matemática pura e aplicada, os educadores matemáticos, de outro, realizam seus estudos utilizando métodos interpretativos e analíticos das ciências sociais e humanas, tendo o objetivo de desenvolver conhecimento e práticas pedagógicas que contribuam para uma formação mais integral, humana e crítica do aluno e também dos professores. Considerando que a Educação Matemática envolve o domínio do conteúdo específico (matemática formal) e o domínio de ideias e processos pedagógicos relativos à transmissão/assimilação e à apropriação dos mesmos, destacamos a importância do Laboratório de Educação Matemática da Uniso na formação integral de seus professores; o LEM é um ambiente privilegiado e gerador de situações reais de aprendizagem, pois proporciona momentos de reflexão sobre a prática, de colaboração e discussão, além da produção e manipulação de material didático e de incentivo à pesquisa.
O Educador Matemático brasileiro, Julio Cesar de Mello e Souza, conhecido pelo pseudônimo Malba Tahan, embora tenha vivido numa época em que prevalecia a matemática formal (1895-1974), propunha um ensino de matemática diferenciado, no qual estivesse presente o lúdico, o experimental e o contexto. Foi autor de diversas obras da literatura e da matemática, entre livros e contos, das quais destacamos O Homem que Calculava, Lendas do Oásis e As Mil e Uma Noites.
Com as tendências destacadas por Malba Tahan, surge no Brasil o movimento de Educação Matemática com a proposta de desmistificar o ensino de matemática, e este movimento é coroado em 27 de janeiro de 1988, com a fundação da Sociedade Brasileira de Educação Matemática - SBEM.
Em homenagem ao nascimento de Malba Tahan, a SBEM elegeu o dia 6 de maio como o Dia Nacional da Matemática. Neste dia são realizados eventos comemorativos com o propósito de difundir a Matemática como área de conhecimento, sua história, seu encanto e sua incontestável beleza.
Prof. Ms. Antonio Noel Filho é coordenador das atividades do Laboratório de Educação Matemática da Uniso (antonio.noel@prof.uniso.br).
Notícia publicada na edição de 08/06/2010 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 2 do caderno A.
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