Disciplina - Matemática

Matemática

08/08/2011

Olimpíadas de Matemática da Lusofonia aproximam jovens da CPLP

Jornalista: Lúcia Vinheiras Alves / Imagem e Edição: António Manuel
Primeiras Olimpíadas de Matemática da Lusofonia, realizadas em Coimbra, conseguiram aproximar jovens da CPLP e estimular o gosto pela matemática. Dois objetivos alcançados numa iniciativa que Nuno Crato diz ter futuro.
Chegaram ao fim as primeiras Olimpíadas de Matemática da Lusofonia, que decorreram em Coimbra. O momento já é de descontração para os 23 jovens participantes, mas também para professores e avaliadores.
Participar em Olimpíadas foi para os jovens certamente uma boa experiência e neste caso quando a língua lusófona é o elo de união e a matemática o desafio.
«Eu acho que é muito enriquecedor participar nesse tipo de competição, além de você conseguir treinar a matemática aprende-se muita coisa convivendo com culturas diferentes», afirma Gustavo Braga, participante do Brasil e acrescenta que «viajar também é uma experiência incrível, uma experiência realmente inesquecível que guardamos para toda a vida».
«Primeiro nós aqui conhecemos pessoas novas de outros países e achei muito bom. E para o ano, como agora já viemos este ano, vamos conseguir preparar os nossos colegas que vêm para o ano», afirma Débora Araújo, participante de Angola e acrescenta que «é muito bom porque há outros países que além do português falam outras línguas e também falamos o português de maneiras diferentes, então foi muito agradável».
Já Donald Manique, participante de Moçambique refere que «acho que em termos de contacto, se essas Olimpíadas da Lusofonia continuarem pode haver uma maior interação entre alunos de países diferentes de língua portuguesa. Então, é sempre bom para o melhoramento do ensino da matemática».
«Faço um balanço bastante positivo, deu para perceber novas ideias sobre a matemática e novas imagens e deu para ver como era a escola nos outros países lusófonos», afirma Frederico Toulson, participante de Portugal.
Para os professores envolvidos nas Olimpíadas, e que acompanham os participantes, a experiência também é considerada positiva.
«Este balanço é francamente positivo, uma vez que as Olimpíadas de Matemática da Lusofonia é um projeto importante para despertar os alunos para a área da matemática e também serve como ferramenta para melhorar a qualidade de ensino de matemática em cada país lusófono», explica Carlos Sanchez, do Ministério da Educação de Cabo Verde.
Fernando Gama, do Ministério da Educação de Timor Leste concorda e afirma que «é claro que temos muitas vantagens e proveitos sobre isso. Aqui podemos trocar impressões entre países da lusofonia e aqui nós temos um ponto comum, nós na mesma língua como a língua portuguesa, isso é que nos une para tentarmos aprofundar os nossos laços de amizade com os outros países da CPLP e para fortalecer. E nós como timorenses, sabem que Timor é um país muito distante dos outros membros da CPLP mas não nos vamos prender com isso. Agora é a vontade de cada um de nós e nós timorenses temos de aproveitar ao máximo para podermos tentar aprofundar este conhecimento linguístico».
Já Flávia Morais, Professora da Escola Portuguesa de Luanda, em Angola refere que «foi uma grande experiência e espero, acima de tudo, independentemente dos resultados, porque também são importantes porque são um estímulo para os alunos, que tenham sido o princípio de muita coisa que vai ter de acontecer. E que será realmente muito profícuo para eles no ensino da matemática. Gostei. Gostei das aulas e, sobretudo, acho que eles vão a saber mais, isso é importante, e com vontade de continuar e de se empenharem a sério para o que está para vir».
Mesmo para os professores que estiveram presentes como observadores, a experiência vai-lhes permitir preparar a participação nas próximas Olimpíadas.
«Venho como Observador porque ao nível nacional ainda estamos a dar os primeiros passos no que diz respeito a este tipo de competição e para nos inteirarmos como o processo se desenrola, estamos cá e faço um balanço positivo», afirma Gerson do Espírito Santo, docente do Ensino Universitário em São Tomé e Príncipe.
O Professor acrescente que «podemos a partir daqui colher informações e subsídios de forma a que na próxima edição, que será no Brasil, estarmos presentes com uma equipa de participantes/alunos».
O momento de serem anunciados os vencedores está próximo e as expectativas são maiores para alguns dos jovens participantes.
«As provas correram bem, correram melhor do que eu esperava porque depois das aulas com os professores daqui eu achei a matéria, não me estava a adaptar muito bem, então depois das provas achei que correram melhor do que eu esperava», explica Débora Araújo, de Angola.
«Os exercícios, os que saíram não era aqueles para os quais me tinha preparado e que eu pensava que poderiam sair. Então, saíram exercícios que eram acessíveis, que eu podia fazer. Mas tive algumas dificuldades, não posso negar. Mas acho que terei um bom resultado», confessa Donald Manique, de Moçambique.
«O primeiro dia correu-me mal porque eu enervei-me e atrapalhei-me e acabei por me desconcentrar», explica Nuno Santos, de Portugal e acrescenta que «a prova era fácil, eu é que não consegui manter-me concentrado, comecei a ficar muito atrapalhado e não consegui fazer nada. No segundo dia a prova foi muito difícil e ai foi mais natural que me corresse mal».
«Primeiramente eu estava um pouco aflita nos dias de exercícios normais para nivelarem os diferentes países. Estava um pouco aflita porque havia exercícios que eu não conseguia apanhar à primeira. Mas no teste fiquei mais descansada porque os exercícios estavam ao alcance de todos. Na medida do possível nós todos conseguimos resolver», explica Arlene Silva, de Cabo Verde.
«Os exercícios em geral foram de nível médio, houve um problema que foi bastante difícil, o problema seis da competição, não houve notícia de ninguém que o conseguisse resolver, portanto, foi um problema bastante complicado, mas nos outros problemas o Brasil conseguiu sair-se muito bem, todo o mundo fez. Então estamos à espera de bons resultados», afirma Gustavo Braga, do Brasil.
«As provas correram bem e para mim é um bocado difícil porque lá não recebemos as matérias como as que recebemos aqui, mas consegui fazer tudo. O máximo possível», refere Joraida Pereira, de Timor Leste.
Uma característica de um bom participante numa competição é reconhecer as limitações, o que parece ser o caso dos jovens nestas Olimpíadas.
«A matemática nas escolas em Moçambique está num nível muito muito inferior em relação à matemática nas escolas aqui em Portugal. Porque para alunos do 12º ano em Moçambique, vêm aquilo que vêm os alunos do 10º ano aqui em Portugal. E isso acho que poderia melhorar», refere Donald Manique.
«Queria um dia o nosso Governo pudesse arranjar um grupo como o que há aqui em Portugal, o Departamento Delfos que prepara os alunos para as Olimpíadas da Matemática. Gostava que os timorenses também fizessem um grupo para preparar os alunos timorenses para nas Olimpíadas podermos atingir lugares como Brasil e Portugal, eles já participaram antes nas Olimpíadas. Acho que não é só Timor, parece que alguns países lusófonos ainda não participaram. Portanto, para nós talvez haja algumas dificuldades», confessa Joraida Pereira.
Arlene Silva, de Cabo Verde explica que a matemática nas Olimpíadas «é diferente, é muito diferente. Mas um professor disse-me que na escola em Portugal não dão os exercícios que estamos a fazer. Aquilo são curiosidades à parte dos Delfos. Mas mesmo assim, acho que nós não estávamos bem nivelados, mas conseguimos estar mais ou menos à altura para fazermos os testes».
«Quando nos disseram que vínhamos para aqui, disseram-nos que eram exercícios de lógica e que nós não nos precisávamos de preparar, que era exatamente aquilo que nós já sabíamos antes. E que se estudássemos não ia mudar nada», afirma Débora Araújo, Angola.
Já Gustavo Braga, do Brasil explica que «no caso de Portugal nós estamos em níveis muito semelhantes porque Portugal já tem uma Olimpíada de Matemática bem desenvolvida, tem bastantes programas de treinamento e a ideia da Olimpíada é justamente incentivar os outros países falantes de língua portuguesa para começar a executar Olimpíadas nacionais de nível mais avançado e treinar. Portanto, o Brasil e Portugal ainda estariam num nível bastante acima. Mas a ideia da Olimpíada é exatamente essa, é a integração para que se vá desenvolvendo um programa de Olimpíadas Nacionais maiores nesses países».
Também os professores reconhecem existirem diferenças na preparação dos jovens. «Nós temos algumas dificuldades, é verdade», afirma Fernando Gama, do Ministério da Educação de Timor Leste.
O Professor acrescenta que «antes de virmos para Portugal, nós não fizemos muitas formações para os alunos que participaram. Então, as dificuldades estão ai, falta de formação para os alunos e depois nós ainda não temos uma estrutura adequado para podermos tentar realizar esse evento como deve ser, mas nós sabemos que isto vai ser uma experiência para nós daqui para a frente, podemos fazer e aperfeiçoar esses sistema, nomeadamente, temos de criar uma nova estrutura para podermos trabalhar e podermos fazer Olimpíadas a nível nacional e dai podermos selecionar bem os alunos para poderem participar neste tipo de atividade».
«As dificuldades dos alunos prendem-se com a experiencia da realização das Olimpíadas, uma vez que há países que já têm mais de dez anos de experiencias na realização das Olimpíadas e há países que ainda estão a começar», explica Fernando Gama, do Ministério da Educação de Timor Leste e acrescenta que «o objetivo é contribuir, todos os países ajudam uns aos outros em termos da organização para podermos ter a curto e longo prazo uma determinada igualdade para que todos os países possam participar e competir em pé de igualdade porque este projeto visa a excelência».
«Uma das coisas que pesou muito nos resultados nos países menos experientes é a forma de preparação», afirma o observador de São Tomé e Príncipe e explica que isso acontece «porque não se questiona o valor dos alunos, dos participantes, mas há aqui uma questão fundamental que é a preparação. Porquê? Porque trabalha-se com um tipo de problemas típico neste tipo de competição. Apesar dos alunos terem a capacidade que têm, serem iguais aos outros no que diz respeito ao intelecto, há toda uma preparação que não foi feita, porque pelo que pude observar, houve equipas que terminaram o ano letivo e vieram para cá sem qualquer tipo de preparação, não faziam ideia do tipo de questões com que se iriam deparar».
s Olimpíadas de Matemática da Lusofonia permitem também que os professores dos vários países avaliarem modelos de ensino. «As Olimpíadas da Matemática são atividades que envolvem grandes números de professores e de alunos. Os que ainda estão menos envolvidos, cabe a nós que já estamos envolvidos no projeto fazer a sensibilização para trazerem esses professores para este projeto, uma vez que é considerado importante para atingirmos os objetivos de melhorar a qualidade e o rendimento dos alunos no âmbito da matemática. E acreditamos que todos os professores de matemática de todos os países estão interessados em melhorar o seu desempenho enquanto professor e também ver o esforço que faz refletido na melhoria da qualidade de aprendizagem dos seus alunos», explica Carlos Sanchez, de Cabo Verde.
Já Gerson do Espírito Santo explica que «no meu caso, por exemplo, sou docente e leciono para uma determinada área e o tipo de preparação que os alunos precisam neste caso é algo muito abrangente e existem algumas técnicas especificas que mesmo nós, apesar de sermos docentes, não estamos familiarizados, porque no fundo estamos a preparar ‘atletas olímpicos’ e atletas olímpicos são pessoas que têm de estar muito bem preparados e este é um fator que temos de ter bons formadores para que depois possamos ter alunos que possam dar algum resultado».
A influência que a participação nas Olimpíadas de Matemática da Lusofonia pode exercer nos alunos e nos professores é partilhada pelo Ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato.
«Acho que sim porque os professores também melhoram com os alunos. Não são só os professores que melhoram os alunos, os alunos também melhoram os professores. E bons alunos, alunos interessados também interessam os professores e é um movimento que depois se repercute e se alastra de uma maneira muito grande. É isso que nós queremos, no fundo estas competições de matemática são competições que vão alastrar o gosto pela matemática e o gosto pelo conhecimento a muitos jovens», afirma o Ministro Nuno Crato.
E agora é chegado o momento de conhecer os vencedores. Medalhas de ouro na categoria A para Gustavo Braga e Carlos Silva do Brasil e Frederico Toulson de Portugal.
Para o jovem português a medalha de ouro tem um significado especial. «Serve para mostrar que consegui atingir os meus objetivos nesta participação, em que eu era um dos supostamente favoritos a vir por ser dos mais velhos e por ter mais experiência em competições deste género», explica.
Na categoria B, as medalhas de ouro e prata foram para Angola. Para Pedro Costa e Erica de Melo Pinto a de ouro e para Nadine de Castro Antunes a de prata.
Para além dos que receberam medalhas, todos foram distinguidos pela brilhante participação nas primeiras Olímpicas de Matemática da Lusofonia.
Sobre as Olimpíadas, Nuno Crato refere que «é a primeira vez que se encontram todos os países que falam português num encontro de Matemática numa competição de matemática com jovens. Eu acho que isto é absolutamente extraordinário. Porque nós temos a experiencia de participar em olimpíadas Internacionais mas nunca tivemos a experiência tão bonita como esta, ter todos os jovens a falar a mesma língua e todos a trabalharem em matemática. Acho que este é um momento histórico, um momento de futuro».
Já para os participantes, esta é uma experiência para partilhar com os colegas e amigos em cada uma das escolas onde estudam.
«Vou dizer-lhes que foi tudo fácil para gostarem de matemática», afirma Arlene Silva, de Cabo Verde e acrescenta que «na verdade vou dizer-lhes que eles também conseguem chegar lá, apesar que fui a única da minha ilha, mas há muitas pessoas pelo menos na minha turma que concorreram e que tinham potencial. E se acreditarem, estudarem também e não encararem a matemático como algo que lhes pega no caminho e não os deixe transitar. Muito pelo contrário, há muitas pessoas, colegas meus que fogem da matemática para irem para outras áreas. Mas eu aconselho-os que não façam isso, porque vão encontrar a matemática em quase tudo».
«Quero que os meus amigos lá em Timor estudem mais para levarmos Timor mais para a frente e para um dia Timor ser conhecido por todas as nações do mundo», confessa Joraida Pereira, de Timor Leste.
Já Donald Manique, de Moçambique diz que «falarei de Portugal e como foi esta experiência. Das coisas novas que aprendi na matemática, porque aprendi que a matemática não são só números, é muito mais».
As próximas Olimpíadas de Matemática da Lusofonia estão já marcadas para 2012, no Brasil.
(Este texto foi escrito ao abrigo do Acordo Ortográfico)
Esta notícia foi publicada em 05/08/2011 no sítio TV Ciência. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.
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