Disciplina - Matemática

Matemática

02/02/2012

Descoberta contribui para pesquisa da matemática no Brasil

A existência de exemplares da Revista Brasileira de Matemática na Biblioteca da Escola Politécnica da UFBA serviu para o pesquisador André Matteddi caracterizá-la, a partir da data de lançamento, como o primeiro periódico matemático de abrangência nacional. Num artigo publicado em Episteme (Porto Alegre, n. 11, p.37-56, jul./dez. 2000), André, que hoje é professor do Programa Interinstitucional de Pós-Graduação em História e Filosofia da Ciência da UFBA/UEFS, foi o responsável pela descoberta. Pelo que apresentam os dez exemplares encontrados da revista, criada em 1931, consta que possuía representantes em quase todas as unidades da Federação, mas estava longe de representar o estado das pesquisas que se realizavam no país em matemática. No entanto, teve a importância de aproximar os poucos matemáticos e professores de matemática então existentes. Precedido por outro periódico, a Revista de Matemática Elementar, criado em 1929, também originado na Politécnica da UFBA, a Revista Brasileira de Matemática era editada pelo engenheiro civil Salomão Serebrenick, formado na mesma escola em 1930, indo depois morar no Rio de Janeiro, em 1931.
O citado trabalho de André Matteddi, além de sua tese de doutorado na USP, que versou sobre a matemática na Bahia, não se apercebeu de um aspecto curioso, descoberto pelo Prof. João Augusto de Lima Rocha. É que os demais responsáveis pela publicação da Revista Brasileira de Matemática, na Bahia, eram Pedro Muniz Tavares Filho, formado em Engenharia Civil, em 1928, que se tornaria mais tarde um dos fundadores da Faculdade de Filosofia e catedrático de Mecânica Racional da Politécnica; Paulo Peltier de Queiroz, que mais tarde se destacaria como dirigente da Codevasf e na direção de importantes obras nacionais de engenharia; e Carlos Marighella, que entrou para o curso de Engenharia Civil da Politécnica em 1930. Essa descoberta foi relatada em artigo de Lima Rocha no Jornal da Ciência (http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=80813) do dia 18 de janeiro deste ano.
Na oportunidade das comemorações pelo centenário de nascimento de Marighella, em 5 de dezembro de 2011, o Prof. João Augusto descobriu na Biblioteca da Escola Politécnica, tanto a presença de Marighella na equipe de organização do periódico, como também um artigo de sua autoria, no exemplar correspondente aos números 11 e 12 da Revista Brasileira de Matemática, páginas 143 e 144, jul.-ago. de 1931. Intitulado O teorema de Ptolomeu na avaliação dos lados dos polígonos regulares inscritos, o artigo, elaborado pelo então estudante do segundo ano de Engenharia Civil, com a idade de 19 anos, possui um texto bastante claro e convincente, a revelar a vocação matemática interrompida, para dar lugar ao poeta e político revolucionário que tanto marcou a nossa história recente. Membro do Partido Comunista do Brasil (PCB), Marigheela passou significativa parte de sua vida em prisões políticas, nas quais introduziu cursos regulares para os presidiários. Era o que ele denominava a universidade popular, em que exercia, além do papel de organizador, a função de professor de matemática e engenharia.
Nascido em Salvador-BA, filho de um operário italiano e uma negra descendente dos haussás, conhecidos por sua associação com as revoltas libertárias baianas promovidas no nosso passado, Marighella encarnava o modo de viver baiano, marcado pelo envolvimento, não somente com as questões sociais, mas também com a cultura local, inclusive com a capoeira e com o futebol. Na sua trajetória estudantil, tanto no Colégio da Bahia quanto na Politécnica destaca-se a realização de provas em versos, uma delas de física, sobre a reflexão nos espelhos, e outra em química, que descreve poeticamente os detalhes do elemento hidrogênio e as formas práticas de sua produção.
Esta notícia foi publicada em 19/01/2012 no sítio da Universidade Federal da Bahia. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.
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