Disciplina - Matemática

Matemática

21/03/2012

O humor pode ser o Cavalo de Troia para o conhecimento

Por: Guilherme Rosa
Autor da série de livros Piadas Nerds explica como piadas podem ajudar no ensino.
“Qual animal tem 3,14 olhos? O PIolho”. É com piadas como essa que 3 ex-alunos da UNICAMP querem ajudar vestibulandos e estudantes em geral a aprender matemática, química, física, biologia. Na série de livros Piadas Nerds, Ivan Baroni, Luiz Fernando Giolo e Paulo Pourrat usam do humor – muitas vezes infame – para divulgar alguns conceitos da ciência.
No ano passado, eles lançaram um livro com piadas nerds mais gerais [Malandros são os Power Rangers, que arrumam treta e no fim chamam o Megazord], mas agora lançaram duas edições de bolso, focadas em química [Qual é a comida mais calórica que existe? O chocolate, pois tem muito kcal] e matemática [O que o MMC estava fazendo no pé da escada? Esperando o MDC]. Em conversa com a GALILEU, Ivan Baroni narrou como tudo começou com uma conta no Twitter, virou três livros e vai dar início a uma série. Veja a entrevista completa com o autor – e piadista – abaixo:
O livro surgiu a partir de um perfil no Twitter (@piadasnerds). De onde veio a ideia?
Eu e os outros dois autores estudamos na Unicamp. A gente se conheceu no Centro Acadêmico do IMECC (Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica). A gente percebeu que existiam muitos twitters que contavam piadas, mas elas não eram do tipo que a gente gostava de contar. As nossa envolviam integral e derivada. Decidimos criar uma conta pra contar esse tipo de piada, e acabou dando mais certo do que a gente imaginava. No começo, só éramos seguidos por nossos amigos. Mas eles começaram a passar para os outros - foi um efeito dominó. De repente, estávamos com mil seguidores, dois mil, cem mil [hoje eles têm mais de 162 mil]. Aí nos tornamos um twitter de peso.
Vendo que tinha um público legal, pensamos em fazer um livro. O primeiro, que foi lançado no ano passado, teve uma receptividade muito boa, vendeu mais de 30 mil. Mas decidimos separar por temas, para aqueles que só querem piadas de determinada área, e vender baratinho, no formato de bolso. Resolvemos fazer uma coleção. Agora saiu o de química e o de matemática. Estamos terminando os de biologia e física. E por último vamos lançar os de informática e ciência humanas. Sabe, a gente é nerd. Isso que é legal: nós somos o nosso público. Eu gostaria muito de ler esses livros. É isso que fez o projeto dar certo.
Mas o primeiro livro que vocês lançaram era menos didático, não?
No primeiro, nós pegamos algumas piadas de química que gostávamos e colocamos em qualquer ordem. Dessa vez, nós quisemos ser mais didáticos. Não adianta falar em integrada e derivada pra alunos de oitava série. Mas os alunos de engenharia e exatas vão entender facilmente, porque esses conceitos estão no começo do curso. Então a gente separou o conteúdo desses novos livros pela ordem de aprendizado. Vimos o material oficial do MEC, que recomenda que química seja ensinada em determinada ordem. Fizemos um mapa com o conteúdo da matéria e fomos encaixando as piadas. A intenção é que o aluno consiga encontrar o conteúdo que está aprendendo.
Vocês inventam as piadas? Ou elas são de domínio público?
Muitas são nossas. Acordamos e vemos o que está nos Trending Topics do Twitter. Por exemplo: vemos que é dia do índio. Daí lembramos que o índio está na tabela periódica, como elemento químico. E que o índio não pode se relacionar com estanho. E criamos uma piada. [O que a mãe do índio lhe disse? “Nunca fale com estanhos”] Mas o pessoal também manda piada pra gente, muito professores participam. A gente é o único twitter que faz isso, temos muitos colaboradores. E a gente creditou todo mundo! Todos que enviaram piadas pra gente estão creditados no livro.
Mas vocês também usam aquelas piadas que os professores repetem em sala de aula, não?
Claro. De matemática, tem uma clássica, que é muito usada por professores: “O que é pior do que cair um raio na sua cabeça? É cair um diâmetro”. Porque ele é duas vezes o raio. As piadas surgem como mnemônica, para ajudar na memória. Você ri e acaba decorando um pouco pro vestibular. Vira e mexe a gente recebe twitts dizendo que alguém acertou uma questão numa prova por causa de nossas piadas. Um exemplo: “O que a bolacha de água e sal era antes? Era um biscoito de ácido e base”. Isso ajuda a decorar que uma reação de ácido e base resulta em água e sal.
Vocês não tiveram medo de usar piadas infames?
Imagina, essas fazem mais sucesso. As piadas infames são boas para pensar. Os trocadilhos, por exemplo, por mais que sejam bobinhos fazem você parar pra pensar. Fizemos uma piada em que o seno entrou numa festa, onde viu o cosseno, o ângulo reto e a hipotenusa. Aí ele pensou: “Nossa, cotangente”. Isso faz a pessoa parar para pensar na propriedade matemática. De onde vem nosso humor? Vem da cara-de-pau de fazer uma piada envolvendo seno, cosseno e cotangente.
Dá pra aprender com essas piadas?
Isso é o mais legal. É piada? Beleza. Mas uma ou outra coisa você vai levar pra frente. Eu mesmo, que não sou químico, tive que fazer piadas e revisar outras sobre o assunto. Acabei aprendendo bastante. Se você tiver estudando e lendo o livro ao mesmo tempo, vai ser muito poderoso. Você vai associar na hora as piadas com o que o professor falou. O humor pode servir como Cavalo de Troia pro conhecimento. Porque às vezes o estudo é meio chato, meio enfadonho, e com piadas fica melhor.
Já receberam críticas por fazer piadas com assuntos sérios?
No Twitter, nós temos muitos seguidores do tipo Sheldon [personagem da série The Big Bang Theory]. Aí a piada tem que vir perfeita; se tiver alguma imprecisão, eles reclamam. Por exemplo, fizemos uma piada: “Qual o animal com 3,14 olhos? É o piolho.” Daí uns já escreveram: Mas o Pi não é 3,14, ele é 3,141592... A gente teve que concertar: “Qual o animal que tem entre 3 e 4 olhos?” Mas esse tipo de coisa é raro. Entre o humor e a ciência, a gente tentou deixar mais científico.
Esta notícia foi publicada na Revista Galileu. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.
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