Disciplina - Matemática

Matemática

26/08/2013

A presença das formas geométricas na criação artística

Workshop na Vila das Artes discute a interferência geométrica na arte contemporânea

Embora nem sempre a ligação seja evidente, arte e matemática andaram de mãos dadas por muito tempo ao longo destas duas formas de entender o mundo. Na Antiguidade, a chamada proporção áurea de simetria e perfeição era o objetivo dos artistas clássicos. Também conhecida como número de ouro, a medida se encontrava nas obras de Leonardo da Vinci, principalmente nas representações anatômicas em seu Homem Vitruviano. Mais à frente nos séculos, Pablo Picasso questionou as formas e se tornou o ícone do cubismo, corrente artística que lidava com os contornos da natureza transfigurados em formas geométricas.

Os elementos mais básicos da geometria aplicados às criações artísticas são o tema do workshop

São justamente os elementos mais básicos da geometria aplicados às criações artísticas que o workshop “A Obra de Arte na Civilização do Retângulo” discute. A oficina ministrada pelo artista visual e pesquisador Tobias Gaede acontece na Vila das Artes, das 9h às 17h desta sexta-feira. O cerne do debate está nas interferências da matemática e da precisão nas obras, seja pelo enquadramento ou perspectiva em que se mostram, ou mesmo pelo diálogo espacial entre galerias e representações.

Barthes

De acordo com o instrutor, a terminologia “Civilização no Retângulo” – utilizada primeiramente pelo escritor e sociólogo Roland Barthes – “resume a artificialidade dessa forma que representa a capacidade de criação da sociedade”. As criações analisadas durante a oficina se voltam para as obras visuais, como fotografias, pinturas e esculturas, fomentando o diálogo sobre as representações geométricas planas e volumétricas. “A ideia do workshop como um todo é discutir as formas geométricas mais básicas na produção artística em geral, percebendo a maneira com que essa forma direcionou enquadramento, geração de imagens ou formação de esquemas de perspectivas”, explica Tobias Gaede.

A discussão não se restringe ao espaço da oficina. Outro projeto de Tobias acontece também no prédio da Vila das Artes, como um paralelo e um concorrente ao workshop. Trata-se da exposição Objetos de Matriz Digital, resultado da linha de pesquisa que o artista desenvolve desde 2005. Para contrapor noções de presença e ausência, branco e preto, opostos quase binários – matematicamente falando –, Gaede mesclou camadas de imagens das próprias impressões digitais, desenhando formas volumétricas. Dessa maneira, cada peça constitui uma representação fatiada horizontalmente de um objeto cotidiano, criada através de sobreposições de várias figuras planas. É quase um salto para uma composição tridimensional de elementos unidimensionais. É uma adequação da fórmula matemática e abstrata do volume concretizado em uma obra etérea, porém ainda física.

Segundo Tobias Gaede, toda essa mistura de referências busca criar um debate acerca da direção de imagem a partir das ferramentas digitais, unindo a modernidade e do avanço tecnológico às noções orgânicas dos vestígios deixados pelo corpo humano. Assim, aprofunda-se a troca de conhecimentos não apenas no que se refere à presença dos elementos geométricos nas obras de arte, mas também na própria forma do homem. Afinal, os gregos clássicos e também os renascentistas já acreditavam na harmonia, no balanço e na simetria presentes em cada pessoa. Os contemporâneos, porém, ainda não decidiram se concordam ou não.

Mais informações


Workshop “A Obra de Arte na Civilização do Retângulo”, com Tobias Gaede. Das 9h às 17h, na Vila das Artes (Rua São José, 01, Centro, Forteza, CE). Contato: (85) 3105.1464

Esta notícia foi publicada em 23/08/13 no Diário do Nordeste. Todas as informações são responsabilidade do autor
Recomendar esta notícia via e-mail:

Campos com (*) são obrigatórios.